natureza viva
A afogar-me emocionado na flor rosa do teu corpo: as minhas lágrimas concentradas para o desabafo leitoso da haste que te segura as pétalas, enquanto a luz anuncia o intervalo entre o fresco hálito de uma madrugada marinha e a promessa de uma alvorada ainda por trás das colinas. Os teus dedos mexem como as folhas e a seiva deste caule, a tua língua ladrilhando de orvalho a sua textura de veludo, e num suspiro as pombas esvoaçando alvoroçadas com o brilho da manhã. Deslumbras-me com os botões a enfeitar os cumes altos e largos do teu peito, bolhões de água viva provocando o fervor das minhas mãos e saciando-me a sede impaciente dos lábios que procuram o seu desabrochar. Tens a cor do musgo nos olhos, penetrada nos meus com brilho e sombra e paixão, e o perfume do tojo e da giesta na tempestade voluta dos teus cabelos a perpetuar a primavera em mim. E quando as tuas pernas, acariciadas pela flor do trigo, me prometem o pão em delicados movimentos, já eu sou todo fera faminta de carne, fa...