amar uma pedra
Está bem assim. Por favor, não te mexas. Queda-te muda, fria, pétrea. Como se fosses mármore por mim esculpida e desenhada pelo meu cinzel nas medidas do teu rosto, nas curvas do teu corpo. Prefiro-te sem voz. A tua imagem, apenas. Sem dizeres palavra, sem levantares o sobrolho. Está bem assim. Para te mirar, nessa petrificação. Único soldo do meu esforço. Porquanto tudo foi em vão, não percebes? O esforço com que lutei para te manter, quaisquer que fossem as adversas circunstâncias contra nós. Eu assim, num atabalhoado trabalho, e tu desistindo, ora quando avançavas a boca fera sobre mim, ora quando davas as costas, preferindo a distância. Portanto, fica assim, sem te mexeres, sem abrires a boca, sequer com o olhar posto no meu, e possa observar-te como se tu não desses conta. Como quanto dormias, enrodilhada nos meus lençóis, nas raras vezes em urdimos a paz entre o amor confessado. Mas tu sabes. Tu o sentiste. Esse amor parcelar que tivemos, tão desnivelado. Cada um no seu canto, a reivindicá-lo. Pelo que, como te disse da nossa última vez, é preferível amar uma pedra.
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foto de Nikolai Endegor
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