poema sobre o mundo


Um poema sobre o mundo. Ou sobre o amor entre a humanidade – raridade estranha, enquanto tudo se remete a um silêncio quando rebentam terra e edifícios, e por cada segundo há povos que aguentam rebentando também, enquanto outros povos se quedam indiferentes ou com desdém ao poema sobre o mundo, sobre o amor entre a humanidade, essa raridade estranha. Porque o mundo talvez seja a soma de cada mundo individual que se divide em dois e nos seus múltiplos, reflectindo a ambiguidade por quantos diferentes os umbigos que os constroem. Um poema sobre o mundo, na estranha raridade de amor entre a humanidade, não cabe já em canções, sequer em palavras de ordem, mesmo quando os povos urgem cantar em uníssono. E, porém, são tão raras as vivalmas que, manifestando-se, desejam realmente uma plena mudança. Um poema sobre o mundo, da estranha forma de amar entre a humanidade, já não precisa de palavras, nem das imagens com olhos, gestos e sentimentos num movimento de câmera lenta e a preto e branco, ensimesmando nostalgias entre gritos. Depois, há sempre quem não aguente, há sempre quem chore – mais ou menos drama, proferem alguns – mas somos todos, uns e outros, somos todos humanos, estamos e estaremos lá onde o mundo quiser que estejamos. E, por isso, um poema sobre o mundo, ou sobre o amor entre a humanidade, ensurdece de tanto silêncio.


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foto de Alexander Khromeev

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