andamento


Cresce, pelo interior de mim, o inominável. Dilato o peito por me encher de comiseração, muito de hesitar, um prego invisível sobre as pálpebras a evitar que os olhos se desmanchem de inconfidência. Porventura saberás, não por to dizer ou do uso de qualquer signo extraordinário à simplicidade, que tudo se desmorona num suplício chorado, embora a seco e em silêncio. Digo antes: detenho a minha finitude em mim mesmo, a roer, corroendo outros, como um cancro que consome e extravasa as células que já não lhe servem. Visível nas minhas feições brancas, de pálida angústia e sem esgares, a flagrante apatia que dita o estender do corpo sem alma ou fito de haver existência. A irreversível morte. Por mais palavras que possas ter, e dizer. Arruína-se tudo, no fundo de tão cá dentro, poço consumido, e eu, de corpo erguido e ambulante, a passear essas ruínas como cavalo de madeira a inflamar a curiosidade que veio sempre a matar o gato e Troia em desgraça: os teus olhos claros, marejados de consequentes ondas de desilusão – quiçá traição, ou armadilha nunca pensada.


_
foto de Yağcı Mustafa

Comentários