e se eu morrer?


E se seu morrer, prometes?

Que nada disto foi em vão. Os poemas, as canções sem guitarra, os acordes por nascer, as canções dos outros que gritámos, ora chorando, ora rindo?

E se eu morrer, prometes?

Que nenhuma lágrima obrigando ao arrependimento do tempo, que não terás vontade de voltar ao passado, ignorando o presente onde já não estarei? Prometes sorrir quando o tojo amadurecer, e depois a giesta? Que o pessegueiro florirá com o carinho do teu toque quando das suas embeberes folhas? Prometes esperar que a neve passe, e todas as borrascas? Mesmo que venham tremores de terra, medonhos, que te inquietem? Prometes?

Ouvir os pardais em frenesi e o melro anunciando no seu assobio que chegou a hora de recolher? Prometes que a lua continuará no seu lugar? E que o teu sangue terá coragem? E que os teus passos serão leves, e possas tanto caminhar ora sobre pedras, ora sobre areia, ora sobre a relva verde, ora sobre os prados?

Que o solfejo das gaivotas permanecerá como se a beira-mar fosse já aí, aos pés da tua cama quando despertares todas as manhãs? E que vai haver sempre água, e haverá sempre céu, e que

enfim,

que tudo há-de continuar a valer a pena? Como quando eu vivia?

E se eu morrer, prometes que te aguentas?


_
(foto de autor desconhecido)

Comentários