empena


Cresce qualquer coisa tão de repente – uma inquietação – sob o vento que se levantou neste dia de julho, e conseguimos ouvir as vozes dos mortos num murmúrio soletrando

t e r r a

sem que nenhum significado, eles e nós, encontremos ou sintamos coerência;

ainda sob o sol de verão que se inclina, e percebemos os supostos amantes trocando afagos do corpo, em gritos soletrando

p a i x ã o

sem que nenhum fogo se exalte e arda, com eles e connosco, a inibir fome e sede;

também sob o ar assim já tão fresco, e lamentamos os doentes que, ofegando, tenteiam soletrar

v i d a

sem que nenhum fôlego, para eles e para nós, que sustentem as razões de nos mantermos terrenos.

Cresce de intensidade o vento precipitando crinas sobre as nuvens, sobre as ondas das águas, sobre a mansidão das árvores altas. Nuvens, águas e árvores agora reinventadas, feias por premeditação, antipáticos cicerones das utopias humanas – por inquietação – e dizemos, sem soletrar

– O que é?

e apenas a questão ecoando das vozes em coro, sem nenhuma resposta. Vazio de montanhas e vales virgens, desertos estéreis.

Os poetas, entretanto, vão crescendo, e muitos afirmam, confirmam: as palavras. O que resta. O que virá sem advento nem profecia. Tudo o que, interessando, nunca mais valerá a pena.


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foto de Vladimir Konkin


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