terra molhada
Quanto mais te fizeste tímida mais desenfreada foi a minha vontade de te descobrir por inteiro. Naquele prado quente, a ameaça da nuvem pairou, teimosa, pausando o sol que brilhava sobre as pequenas margaridas. Sobre o teu corpo.
Sussurraste: cheira-me a terra molhada
e eu, desconcertado com o teu corpo nu, desentendi as palavras que proferiste, embora o teu rosto pausado igualmente como se escutasses o que estava por vir; como se, entre ligeiramente inquieta e ligeiramente divertida, soubesses de alguma coisa que eu não dei conta. Desenganado, percebi a tua afirmação como imperativa, exigindo-me a cheirar-te como quem cheira a terra profundamente e a sua humidade.
Beijei suavemente a tua vulva e gemeste como a mulher madura que és e que há muito não se reencontrava com o prazer do próprio corpo. E por isso fui investindo o meu rosto sobre a tua humidade, delicado nos dedos, qual jardineiro que quer separar a flor das raízes daninhas.
E, nessa descoberta delicodoce pela precipitação da minha língua sobre a tua humidade, esqueceste a pausa da nuvem escura sobre o sol. Nasceu uma crescente brisa que em instantes se transformou num vento ligeiro mas suficientemente forte para que as pequenas margaridas se inclinassem.
Foi então que percebi quão equivocado estive: apenas premeditaste a chuva, e grossas gotas desceram do céu, uma primeira que pousando no teu rosto como se lacrimejasses, depois mais duas sobre o meu torso, e então outras mais, gotas temperadas, nos teus braços, nas minhas mãos plantadas sobre o teu ventre.
Choveu, aquela chuva amena como quem se atravessa pianíssimo sobre as teclas, tecendo uma nova melodia. Por querer tanto o teu corpo, e o proteger, avancei sobre ti enquanto as tuas pernas se abriram, estando tu tão completamente já esquecida daquela profecia e ignorando a bátega. As tuas pernas abrindo quase no mesmo instante em que as pétalas das margaridas se fecharam para preservar o pólen perante investidura inusitada da nuvem sobre o prado estival. Entrei em ti quando a chuva se fez com maior intensidade.
Os nossos corpos ofegaram num êxtase precipitado igual ao da chuva caindo. A tal nuvem então, aliviada, logo se alongou para sul. E o sol saiu da sua pausa para brilhar sobre o teu sorriso. E para eu que pudesse, transpirado de chuva ou não, sair de sobre ti e quedar-me, ofegante ao teu lado, entrançando os meus dedos nos teus, juntando nesse aperto as corolas das flores ao nosso redor.
_
foto de One Girl Photographer
Comentários
Enviar um comentário