estou bem não estando em gaza
Estou bem não estando quando mal estão
outras pessoas
outros homens como eu
e outras mulheres como a que me fez o almoço
para o qual ajudei nos temperos
e colhendo da terra o mais tenro pé de alface
a acompanhar a carne no forno
regada à mesa por generoso vinho.
Outras pessoas, outros homens como eu
outras mulheres como a que fez
a minha sobremesa preferida.
São homens e mulheres comuns
como eu e ela
com filhos também
não tão preocupados
nas agendas dos amigos virtuais
em tão pequeno ecrã.
Essoutros, essoutras: nenhum almoço
nenhuma terra como horta
nenhum copo por onde beber
sequer a poluta água.
Nem nenhum filho preocupado
com o que não tem.
Não posso, não sei estar bem
se é o meu semelhante
privado do que é humano.
Escrevo no Porto e,
por minha grande culpa,
e por quem escolhi a governar
o que ganho, o que quero ter,
fui esquecendo de escrever GAZA
nas paredes da cidade
onde tantos turistas
tantos cidadãos que não sabem
como será não ter almoço,
colher alface de uma horta,
ter vinho para comemorar
um qualquer domingo em família
um qualquer dia normal.
Como esquecer quem padece alá?
São outros homens e mulheres
que amam também os seus filhos
sem ecrã
sem amizades longe.
Porque o longe
só existe nos seus olhos mal nutridos
por onde apenas procuram no vazio
Escrevo no Porto e,
por minha grande culpa,
e por quem escolhi a governar
o que ganho, o que quero ter,
fui esquecendo de escrever GAZA
nas paredes da cidade
onde tantos turistas
tantos cidadãos que não sabem
como será não ter almoço,
colher alface de uma horta,
ter vinho para comemorar
um qualquer domingo em família
um qualquer dia normal.
Como esquecer quem padece alá?
São outros homens e mulheres
que amam também os seus filhos
sem ecrã
sem amizades longe.
Porque o longe
só existe nos seus olhos mal nutridos
por onde apenas procuram no vazio
um pouco mais do que nada.
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foto de Anas-Mohammed
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