após um poema de Celan
O mundo que iremos gaguejar de cor,
e em que eu hei-de ter estado
como hóspede, um nome
arrancado a suor do muro
que uma chaga lambendo vai subindo.
Tu com a fisga de trevas,
tu com a pedra:
Passou a noite,
eu brilho atrás de mim mesmo.
Puxa-me para baixo,
leva-nos
a sério.
Paul Celan
Sete Rosas Mais Tarde
E, no entanto,
dizer «a sério»
dizer «puxa-me»
seria como dizer o lugar,
seria como dizer
que há a tua presença.
Não o muro inconsequente
nem chaga que só faça doer
quando nada doi
(talvez a alma).
Sem brilho dos olhos
porque os escondo
gaguejo de cor não ser nunca hóspede.
Do suor, antes a palavra.
E o muro:
esse, não o quero mais alto.
Para que assim tu, lambendo,
possas substituí-lo.
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foto de Andreev Stanislav
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