orquídeas para o teu aniversário
Perguntas-me pelo teu jardim e as orquídeas predilectas, como promessas feitas. A primavera tão vagarosa, a instalar-se entre nuvens de um sol tímido, mas, mesmo assim, a instalar-se. Floresceu o tojo já, combinado que está com o romper da giesta em maio, a desmaiar de amarelo as colinas, de frondosas árvores então à inclinação suave das brisas e um permanente perfume de dias estivais prometidos. Mas as chuvas claras de abril não permitem ainda reconhecer essa festa de cor com que se envaidecem os montes, os prados e, sim, os jardins.
Perguntas-me pelo teu jardim e as orquídeas predilectas, e a promessa mantém-se, na esperança de que o sol afaste as nuvens e nos conceda o seu brilho. Entretanto,
(e porque em ti é primavera desde sempre)
levo os meus dedos ao roseiral dos teus lábios enternecidos, e adivinho quantas pétalas no jardim do teu corpo. Ou da seara jovem da tua pele, amadurecendo o trigo. Desce a brisa dos teus cabelos, num afago pelos cumes plantados de dois amores-perfeitos
(dois borbotões de água que acalmam a minha sede)
e entrando num prado descendente de curvas perfeitas, o aconchego do colo para sestas revigorantes, eu cavalo galopando à procura de sombra e feno .
Tacteando com os dedos encontro um canteiro de tímidos trevos, súbditos de uma flor que reina a meio caminho, semi-deusa, esperando por levantar o pólen. Ufana porque única, rainha porque procriadora. Eis uma orquídea tão bem definida, delicada no seu toque de seda, palpitante, as pétalas erguidas com sumptuosidade. Inalo o seu perfume: tenro nos lábios, agridoce na carne tumefeita. As falanges dos meus dedos em cuidados de jardineiro. A flor então aberta para os delicodoces prazeres.
Concedo-lhe um beijo como se sol e água para o seu alimento. O meu corpo tenso aflorando a seda escarlate das pétalas, a adensar-se no gineceu. Acontece a manhã, ergue-se e desce a tarde e infiltra-se a noite. E nos teus olhos, sempre a cor da terra fértil.
Este jardim sempre te pertencerá, com ou sem promessas alheias, chova em abril ou neve em dezembro. Que sejam em ti muitas primaveras, em arranjos de campos de orquídeas, tão selvagens quanto rainhas, veneradas pelos que amas.
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foto de Aleksandr Kolbaya
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