simbiose (para lá das pontes)


Permite-me ser o milho-rei que Ary
escreveu para timbre da nossa diva
Simone; mesmo que não seja concebível
embrião novo conceber, façamos os filhos
possíveis, se pelo gosto não nos cansamos.
Estival o dia, o rio com fagulhas de sol
sob o vento, a maré combinada
com o entardecer para lá das pontes,
dizendo que a distância entre margens
é coragem de negar a profundidade e
de não haver pé, apenas o fôlego propício
por quem se ama, que medo não incomoda.
As pequenas ondas hão-de servir de jangada
para que o abraço em terra se concretize.
Ouve-me dizer – Sol!
(arrumadas as penumbras)
e gritar – Rumo!
Ouve-me questionando – Onde vais?
sem razão de haver perdido
demora nem memória. Quero para nós
a liberdade decidida num amor
que há-de nunca poder ditar grilhões,
já que nada mais concreto entre ambos
senão a desejada inauguração do mundo
que vi perdida. Agora contigo, porém,
conseguida nesta concreta simbiose.

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