sábado kitsch opus dois
Bailam luzes kitsch na janela a meados de novembro, um cigarro aceso contra a luz num fogo de silhueta, a música na mesma espiral de fumo do cinzeiro negro de tosse; o ar molhado da escadaria de musgo com inocência microcristalina dos fungos como árvores em nus integrais de espectro contra a frugalidade e o cancro espezinhado das folhas; o recorte de flores para um bolo-aniversário de alguém morto, tão kitsch fazer-se de ressuscitado se ninguém sai da morte para escutar outras palavras que não as levadas pelo rio; o sujo poliedro por outro líquido da boca expelido e fedendo – era salgueiro com o ouriço incapacitado que falava, dizia de música maia, levava aos lábios o rum para morrer enquanto se morria por modorra num combate mudo entre janelas onde nem rua nem ligeiros movimentos; os parafusos como pedras de anéis nas paredes, quadros com cristos negros e oxidados entre metros de quadrado, molduras sobre folhas secas e sépia com corpos nus, o mesmo vintage guardado nos cofres nos baús; há casacos molhando as mesas onde se sentam nádegas, cursos e ribeiros com naus e faluas, flotilhas; e tilintam os vidros, a janela na roupa a dar de si, calçam-se em modo de chinelos de quarto quando a tv se anuncia; o que veste calça preta e camisa branca num sorriso sem corpo para uma voz de veludo com timbres diversos, estampas; e há gargalhadas – eu quero acabar, sei acabar mas não quero – cedo vou na música gota com gota nas chuvas indecisas; meados de novembro num sábado tão kitsch, sem qualquer gato nos jardins enlameados, só tinta-merda grafando os muros e o coreto a insultar os filhos das putas sem putas que o não são; e nisto os pares – pombos, pardais – revoando: mas, só gaivotas de guincho, sempre atentas ao lixo; enquanto o mar se vem entre escuridão e fúria.
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(foto de autor desconhecido)

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