tocai esses sinos
Dezembro, e é o primeiro solstício do ano
(de um ano natural)
o momento em que a noite se alonga ao seu máximo. Porém, nesse esforço, sucumbem as sombras por moribundas pois que, enquanto agonizam, fazem a promessa de dias mais claros: a luz do dia crescendo e as madrugas diminuindo. O inverno é certo que só agora entrou, mui jovem e irreverente, quiçá infante tirano, mas porque embebere para já, murmura uma melodia de quietude, e tudo ao redor aproveita, exultando-se numa alegria subtil. Enquanto isso, sussurra o vento frio e brilham tenuemente estrelas e halos.
Nas terras e florestas densas, ancestrais, onde a norte, a sombra e o frio eram
são
mais intensos, era este o tempo propenso para os povos se reunirem em celebração. Entre o cristianismo e as tradições pagãs, numa dança de assimilação e confusão, fundiram-se os rituais que resistiram. Sob o visco dos pinheiros, e junto ao carvalho sagrado que crescia, as pessoas juntavam-se para honrar o ciclo da natureza. Decoravam o verde com outras cores, e contrastavam os halos frios do céu com as altas fogueiras em terra.
Fábulas dizem sobre sete donzelas que se moviam em ritmo cadenciado, acompanhadas por rapazes alinhados, prontos para a comunhão. Sete druidas dançavam, ecoando os passos das estrelas que desde sempre orbitaram pelo céu, enquanto os sinos do solstício ressoavam, chamando todos para a canção da renovação.
- Tocai esse sinos!
era o chamamento para a união sob os mistérios do mundo natural. Um cântico de louvor ao sol distante que o inverno faz parecer tão longe, mas cuja força nunca abandona os ciclos da vida. Era um momento de gratidão pelas promessas da luz que ia regressando. Foram dizendo as velhas
- Natal, salto do pardal
e ainda podemos dizer. Gratos somos pela esperança que nos orienta.
Recuperemos então essas tradições à nossa maneira: anho assado e gin que honra o zimbro num gesto que nos liga ao passado e ao ciclo eterno da natureza. Somos do Norte, onde faz mais frio, mas carrega consigo um mistério que o sul não conhece, pelo que este solstício ressoa de forma especial.
Façamos dos nossos corpos a chama que servirá não apenas para nos aquecermos, mas para iluminar todos os espíritos comungados – um símbolo de resistência à escuridão e de celebração da vida em todas as suas formas.
- Tocai os sinos do solstício!
repitamos, mesmo que em silêncio. Porque o advento não é apenas um risco no calendário. É um convite para nos reconciliarmos com os ritmos da terra, com o calor humano, e com a luz que promete mais brilho.
E nós brilharemos. Será sal e terra, calcário e argila. Areia, se quisermos. Havemos de brilhar para além das pequenas ervas crescidas no jardim. Há-de vir o tempo de tudo florir e, dessa floração, frutar. Com o mesmo fogo do sol então alto já, havemos de fazer tantas outras celebrações entre o primeiro equinócio e aquele que será, em momento de êxtase, o segundo movimento da terra em torno do sol
(de um ano natural)
pelo que, na colheita que depois se seguirá, teremos o futuro que esperamos. E tudo então volverá ao ciclo como o que agora se renova.
_
(foto de autor desconhecido)
*
Ring Out, Solstice Bells
Now is the solstice of the year
Winter is the glad song that you hear
Seven maids move in seven time
Have the lads up ready in a line
Ring out these bells
Ring out, ring solstice bells
Ring solstice bells
Join together 'neath the mistletoe,
By the holy oak whereon it grows
Seven druids dance in seven time
Sing the song the bells call, loudly chiming
Ring out these bells
Ring out, ring solstice bells
Ring solstice bells
Ring out, ring out the solstice bells
Ring out, ring out the solstice bells
Praise be to the distant sister sun,
Joyful as the silver planets run
Seven maids move in seven time
Sing the song the bells call, loudly chiming
Ring out these bells
Ring out, ring solstice bells
Ring solstice bells
Ring on, ring out
Ring on, ring out
Ring on, ring out
Ring on, ring out
_
Jethro Tull
Songs From The Wood, 1977

Comentários
Enviar um comentário