última idade




Vem para acreditares na última idade
sem te perderes entre as sombras
que ocupam as fendas do mármore quebrado
e nos lábios apreciar
todo o vinho feito pelas minhas mãos
no lagar multiplicado pela vinha
plantada sobre o calcário húmido dos teus pés

toco-te com os dedos feridos de indiferença
e a minha boca abre-se num bocejo
despindo-te do pedestal:
tens asas delicadas como as das borboletas
que se desfazem no escuro
depois do último ósculo com a luz

acredita no silêncio das rugas e traz o poema
banhado em suor
sob o sol viverás com a última gota de água
que sorverás
na liquidez da minha idade
desviando qualquer propósito de fogo junto às janelas


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foto de Babak Fatholahi

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