os lábios numa convulsão


Os lábios numa convulsão
de desejo, e as palavras
atiradas como barro
contra as paredes
quando o destino é lugar seco.
Por simples são exultadas
as tuas premonições.
Mas, ainda que exultando,
factos nenhuns.
Fazes-te de Apolo virgem
e mudo, à mercê.
Os teus dedos lentos entristecem
por inépcia dos meus.
Os teus olhos em vertigem
lacrimosos, e pedes
que ao coração não medrem
quando ainda as mãos
podem resgatar a ternura perdida.
Mas o que sou eu para ti,
ó lacrimoso?
Para quem dita esperança
onde a luz surda perdura
numa distância fria
tão gélida dos corpos?
Vem então, Apolo perdido,
resgata a tua musa.
Vem, maldito, tão insidioso
crente a queimar parafina
por requiem,
como se fosse meu corpo morto.


_
foto de Ivan Babydov

Comentários