outro mediterrâneo


Eu aqui
no aconchego do resort
bebida refrescante
uma cigarrilha para espantar fantasmas
frente ao ar condicionado que me livra de calores
Tu aí
esplanada ruidosa
a sede pendurada pelo borbulhar da cerveja no copo
e vês mulheres, homens, crianças na praia
frente ao mar mediterrâneo
E eles lá, a sudeste onde tu e eu estamos
com sede
com fome
sem luz
sem praia
sem esplanada
sem entretenimento ou lazer
e todo o ar forçosamente condicionado
o ar mal respirado
e não têm nada que lhes insufle os pulmões
para chorar os seus fantasmas
Eu aqui e tu aí somos mais miseráveis
tu vês o mar e eu sinto de leve, muito de leve, o seu marulho
Eles não são miseráveis
apenas lhes deram a miséria
a morte
olhando o mediterrâneo como insuficiente, medíocre, inumana alegoria
e nenhum marulho: só bombas explodindo.


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foto de autor desconhecido

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