mãos em lágrimas
I would prefer not to
Bartleby, Herman Melville
Escusai o sorriso e/ou o assombro de boca com que levantais expectativas. Estas são como as dores de um calo escuro e pisado. E têm o estrondo de susto de pratos estilhaçando sobre soalho de tijoleira a meio do silêncio da madrugada.
Escusai a consulta, a auscultação, os argumentos dos talvez e quiçás, ou discussões insonsas acerca das razões de tal decisão.
Escusai intensa procura, a colocar olho nos buracos, tentando colher furtivas informações, numa senda que vos sacie os arremessos de misericórdia. Ficar só por opção equivale ao abrir de uma porta por cuja saída pode vislumbrar-se traços da redenção em tanta epístola apregoada.
Ficai com a janela e as suas vistas. Atentai nela a cúmulo do pó, como lhe sobe e desce o sol na vidraça. Os finos fios de teias testemunhando a conquista das aranhas sobre os ângulos. E como tudo isso se transfigura quando das aturadas chuvas.
Ao pisardes areia ou neve lembrai-vos que todo o deserto foi antes (supostamente) prado verdejante, com leitos de água serpenteando entre declives. Que o silêncio é um vento ou então um mar de éter, espraiado e vantajoso.
Escusai, pois, estender-lhe cobertores para que não sofra com os acentuados arrefecimentos nocturnos. A noite promete-lhe fim de caminhada, e figura-se-lhe como a última estação. As pedras erodem, é sabido, mas serão sempre insensíveis à temperatura.
No fim, ardam as mãos em lágrimas.
_
foto de T. Bondarenko
Comentários
Enviar um comentário