jornada impossível
Vaga sensação de estilhaços, arrumados momentaneamente na periferia. Uma acesa aresta de sede, enquanto os pesadelos obrigam a transpirações delirantes e outras inundações seminais, como as lágrimas que se sustêm ao ritmo das metralhadoras raramente caladas. Ninguém se serve dos copos, essoutros fragmentos do passado por vida suspensa, embaciados de bolor nas impressões digitais, ou qualquer coisa como lábios em negativo de fotografia. Vidro ou cristal quebrantado. O tapete longo a fazer caminho entre poeira e pedaços de betão num corredor com portas trancadas, visivelmente gastas com fendas, e uma nudez de farpas na sua madeira, ossos violados pelo abandono. Dão estas portas para quartos com paredes que exibem, sem orgulho, buracos por onde há vistas sobre peculiares paisagens borradas a lápis de um artista inexperiente. Vistas essas, de assoalhada outrora invejada, que dizem pouco mais que as consecutivas cinzas dos destroços. Lama ou terra batida, o sol entre a chuva, as ervas daninhas infiltrando onde houve cidade. Cães uivando com faro inócuo à fome. Se houver galo que dite, por instinto raro, o render da madrugada com a aurora, serão sempre outros sóis que farão luz a esta jornada impossível.
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(foto de autor desconhecido)
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