mediterrâneo


Eu insisto em respirar, por haver prazer. Da água, o oxigénio disperso entre o suor teu que, como pinhal e mar, reaviva o meu coração. Amor temperado pelo sal da língua que enjeita qualquer forma insípida de viver. E salgo o peixe, faço a brasa para que o vejamos grelhando, tendo como horizonte o azul do mediterrâneo. Imaginas tal paraíso? A fome, tu e eu, debulhados na saliva que nos comunga. Do peixe ardido, o óleo, como unção sobre a nossa pele.

Não escreva eu mais poemas que não sejam a soma do teu corpo calculando o meu. Seja fértil a terra onde nos amamos, e doce o aroma que nos console. Nas leiras, nos sulcos, a raiz beba mineral, enquanto nós, trincando morangos, apreciamos o seu vinho, respirado do teu hálito de uva sobre o meu sangue de terra. E para o bagaço, a prensa e um alambique, dizendo do terreno a divindade dos sabores e o quanto nos queremos, perenemente ébrios de sal e calcário.


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(foto de autor desconhecido)

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