cadáver de espírito santo


A forma do espírito santo tem asas às tuas semelhantes batendo sob a tardia luz do sol a desenhar sombras em flexão e sobras na parede azul. Sombras do que sobra de ti na tua longe viagem, embora sem apartares deste porto nem em segurança caberes na abordagem de outro cais. Tens plumas santas e vê quão ridículo é sendo quem nunca foste. Fazem-se em ribeiros as covas para os féretros, preparadas na convulsão escura da terra. E entre torrões, navegam os corpos dilatados de verde no seu cárcere de água como em rio sereno que colhe qualquer matéria morta, para depois cuspir a indústria humana no mar que tudo engole. Longe viagem faz o cadáver que agora és, o espírito formado aos olhos teus semelhantes na imagem de uma pomba com voo tombado de auto-comiseração. Com esse ar, essa estatura do espírito santo que ensinavas na igreja. Agora só te resta quando fores pó semelhante à húmida terra fertilizada de estrume. Para conseguires remissão dos teus pecados, se te lembrares que já só podes ser torrão de adubo para a horta dos insignes.


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(imagem com sobreposição de fotos de autoria desconhecida)

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