faina
Guerra santa em terra de pecado. Assim são os meus dedos imaginando o bravo prado do teu corpo. Por mais que evangelize, mais me torno pecador. Pecador ou pescador, ditarão os teus olhos, que os tens como faróis que sustentam a visão dos náufragos no mar junto à costa. Diz-me do cume dos teus mamilos, se neles podem os meus dedos sustentar a navegação sobre o teu corpo.
Lamentas
- Não tenho homem no mar
e acrescentas
- Nenhum homem há em terra para quem possam meus faróis apontar
e, porém, desdenhando-me, sabes bem que nada do que afirmas é verdade.
Quando quase me naufrago entre o copo e o cinzeiro, sinalizando que as tempestades ora se fotografam num tom frio, ora em sépia, senão o verdadeiro preto e branco como braile para que cegos leiam. E cega tu não és, com esses dois olhos tão despertos de luz. Precisamente como os faróis que ajudam cada embarcação iluminando o arco cego com que se faz o mar nocturno, em noites mais negras quando das tormentas dos céus.
E por isso, ora sendo os teus olhos que me lambem de desejo recalcado, ora sendo os teus mamilos espetados que tanto desejam iluminar os meus dedos após a beira-mar cedida, o porto de abrigo de ambos, são as gaivotas que, mediando de um ao outro lado a nossa geografia, apregoam a feliz pescaria, redimindo-te dessa clausura auto-imposta.
Sabes bem em que águas navego. Sabes bem que, a qualquer tormenta, minha barcaça pode encalhar. E, para teres o homem que tanto desejas em terra, também sabes
(eu consigo ver como os teus dedos soletram o ar à procura do meu nome
may day
como quem diz: meu amor distante)
que, sob observação de olhos e mamilos teus, ficando a praia segura na raiz da tua púbis, poderá meu mastro chegar a porto salvo sem derrear, e nunca corrompidas suas velas de navegação.
E que os meus passos sobre a areia iniciarão o caminho para a tua cama de feno, onde todo o teu corpo me espera em tormenta, a adquirida tormenta que os meus beijos forçam nesse leito de esperança e faina realizada.
Depois então, finalmente, será sob o sol, entre o sal da praia, que nossos corpos voltarão a comungar, com os ramos feitos em terra, do tojo e giesta floridos, longe do mar alto que sempre nos distanciou.
Comentários
Enviar um comentário