do que acreditei eu
Por mais palavras que profira, a ausência foi-se instalando, qual vizinho que entra sem ser convidado e nos questiona da razão de tudo. Eu digo umas máximas e pontos de interrogação surgem sobre quem abordo, ensimesmados na resolução de um tabuleiro de jogo com as cartas gastas até à exaustão, quer nas arestas, quer nas cores. Eu digo rio e perguntam-me pela nascente; eu digo homem e questionam-me sobre a maçã. Contra-argumentos assim não sei discernir, falta-me a geografia e onde grafar crendices e lendas. Insisto: não vão por eles, vão contra eles, e respondem-me, quase indiferentes: pudera eu não concordar com o que vejo e sinto – filósofos enchidos à pressa, argumentando a sabedoria popular. A que sempre foi intemporal, a que se transformou numa dialética entre a adivinha e o ditado. Fico mudo, a pensar que outras palavras tenho, naquele instante em que o ás é colocado veementemente numa muda sequência de quem entende uma matemática sem fórmulas e complicações. Dizem-me: são as regras simples. Dizem-me: são as sortes destinadas. Eu perdendo o fôlego. Que é isso, homem? – desafiam-me. Que o entendimento está em quem perdeu o jogo, hesitado que foi na primeira oportunidade de exibir a manilha, deitada por esperança e perseverança, quando nada mais há no jogo. O mesmo vício com que se leva a vida que sobra. Que se leva, que levamos. Que eu levo também nas entrelinhas da afirmação do pulso forte sobre o tabuleiro. Volto à cama sempre mais cedo, cada vez mais cedo, porque tardei em perceber o que ainda hoje não percebo. Falhei na auscultação por ter demasiado verbo para exibir. Deito-me olhando a esquerda depois de mim. Onde deixou de estar quem eu acreditava que me seguiria, suportaria, para o bem e para o mal. Já ninguém disposto a entregas totais. E a ausência foi-se instalando, fazendo-me ao mesmo tempo cadáver e carrasco do que, afã, acreditei eu ser a esperança.
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foto de Dimitra Alexopoulou
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