véspera de cinzas
A parede é demasiado áspera
para deixar que o queixo
e as mãos lhe sintam a textura
recolhe-se o sol e
este covil de letras e tons e sílabas
fica mais frio
fica grave quando se esfrega a fronte
e se coloca o cabelo em desalinho
a pele arrepiada por um arrefecimento
que não se espera
uma vez que a tarde foi de sol
ufano por promessa estival.
Ao fechar os olhos
o amanhã repudiará as palavras pretéritas
e um novo dia será erguido
a saber que
tendo sido a véspera ébria
será a vez de retomar a sobriedade
e o silêncio.
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(foto de autor desconhecido)
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