grisalho
Os teus lábios beijam-me pálidos. Lá fora o nevoeiro como se mil fumadores filosofando tacitamente a quietude da alvorada. É a palavra cinza de frio escrita na janela. Do leito te ergues, morrendo os lençóis à tua partida. A tua ausência acentua a cor grisalha da janela a consentir que espreguice o corpo dolorido sobre o leito, e os meus músculos não querem acordar prematuros. Regressas ao quarto já a fumar como se quisesses fazer parte do ritual além janela. O dia provoca-te na sua triste e cinzenta manhã. Olhas-te ao espelho, observas o teu corpo, e de súbito reparas no teu envelhecimento. Ontem não soubeste, não conseguiste fazer-me amor. Perdoa-te. Concede-te a desculpa da primeira vez. Talvez que o dia não se acinzente assim tanto e eu possa sentir-te crescendo sob as tuas rugas, numa torre carmesim a ansiar o desejo.
Comentários
Enviar um comentário