confirmação

«It’s alright as long as I don’t have to stay»

Little David Boy

- Vens a quê?

- Ver-te.

- Porquê?

- Para saber-te.

- De…?

- De tudo o que não foste.

Não me procures nas entrelinhas do que fui. Levei-me para parte incerta debulhando lágrimas imperfeitas a reprimir os insultos e a raiva. Deixei a vontade do reencontro numa página qualquer germinando dúvidas inócuas sobre o tempo perdido.

Não te levantes, tu não queres sair daqui. Espera que o último sol de outubro cumpra o seu objectivo de relíquia: fomentar o passado para que a memória não se perca. Nem imaginas o quão dolorosa é a memória perdida.

- Vens para ficar?

- Não. Serei breve.

- Se calhar não devias…

- Não digas o que devo fazer.

Podes deixar correr as lágrimas desde que a distância continue a separar-nos. Desde que não seja eu a colhê-las entre as minhas mãos agora estéreis. Isolei o desejo dos teus beijos numa sombra de parede onde nem sol nem luar. Deslocando o olhar vagaroso, estendido para lá do horizonte.

Vá, suspira agora – isso. É por pouco tempo, e tudo ficará bem, depois o nada de qualquer coisa. Deixa-me apenas escrever-te.

- E não dizes nada.

- Apenas ver-te. Escrever-te.

Entendo o teu rosto como uma pauta vazia. As tuas mãos atrapalhadíssimas com a chávena de chá. Esse gesto imitando os dias mais tristes, os chuvosos. E confirmo o coração empedernido.

- Então é só isto que querias?

- Larga-me a mão, por favor.

- E vais…?

- Já não volto.

Não me acenes, não estou a olhar.

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foto de Emmanuel Roux