ruínas


quando for a morte
abre a terra devagar
com golpes de chuva
não te demores
nas sombras
dos velhos palácios
a escrever no verdete
das paredes
as folhas adocicadas
ou os frutos vermelhos
que amadurecem 
o teu regaço.
quando for a morte
não digas medo
nem espantes a noite
leva o cadáver
banhado de pó à cova
e cospe
- cospe de nojo –
a lentidão das horas
caídas como gotas de sol.
quando for a morte
espreita a escuridão
mantida nas frinchas das portas
no fundo das ruínas dos móveis
na dobra eterna
das mortalhas.
e quando a terra
enfim batida e chorada
esquece-a
com a permanente 
latência das palavras.

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