tradução


De onde vier a luz, traduz-me. Procura o signo dos léxicos na leitura abundante da minha pele clara. Corrompe o cânon da sua delicadeza, mergulhada no acetinado desespero pela saudade do toque dos teus dedos. Quero ser tua musa e ninfa, perpetuada na mais feliz criação que ajustarás à eloquência de qualquer idioma canção dos povos do mundo.

Eu sei que sou o teu poema, o teu sonho encaminhado para a desejada realidade exultada em abundância criadora. Cada poro meu é sílaba articulada cuidadosamente, sem precipitação, no movimento da tua língua. Estende-se pelo prado bravo da minha pele o hálito de vida e beleza cedido pelo vapor da tua voz, a dizer-me, a soletrar-me, a erguer-me num hino.

E fazes-me fonema, ritmo e rima quando me inundas o peito com o beijo da tua caligrafia. Das rosas, éter perfume, da minha carne, concreto desejo de fome. Do teu amor, a simbiose.

Desnudo-me para ti e perante ti serei completa do mundo que absorves com o olhar inquieto, ávido de curiosidade. Meu corpo nu pronto para que o auscultes, a tua multidão de gente, o teu banho de humor humano. Concedes que me faça deusa e cresça, segura, no altar da tua mente.

Possa eu, assim, mulher tua, assassina do teu passado, fertilizadora do teu futuro, difundir-me em ti, plena e lírica, para a construção substantiva da epopeia que levas na alma. Haja festa, vinho e fruta, então, e me exalte, em extremo clímax, quando da tua dedicatória final, firmada em meu ventre com o suco da tua virilidade.


_
foto de Eric Burkhanaev


ver e ouvir no Youtube:

Comentários