onde
Onde é a terra, onde é a raiz
que te afirma sob as bátegas e o vento onde é o céu?
Onde é a mão que te afaga
onde a água que te alimenta
onde a porta esconsa e roída pelo tempo?
Onde os pulmões soprando o hálito morno
onde a boca que os dentes cerram
onde os olhos postos no horizonte
onde a lonjura?
Onde
(nesse dia)
te doeram os nós dos dedos de tanto apertares o nada
onde a voz rouca e quebrada
onde
(nesse dia em que te levaram)
a memória e os cavalos fumegando os cascos com a fúria de um grito
onde as pedras que rolaram
onde
(nesse dia em que te levaram para onde a sombra mora)
os gatos pardos e os pardais assustados
onde a pólvora e o invólucro
onde a golfada e a mão apertando o sangue
onde o cigarro caído
onde a saliva e as lágrimas e o suor
onde
(nesse dia em que te levaram para onde a sombra mora e a noite não morre)?
Não deixes secar a raiz, ou ruir a terra
que não te derrubem as bátegas e o vento
que te não desabe o céu como uma mão que abafa.
Onde
as mãos empurrando a porta esconsa e roída
onde o tempo para vacilares os pulmões
onde os cascos da besta fumegando hálitos sobre a lonjura
onde tu
onde és tu entre a pólvora e o invólucro
onde a dor da voz de tanto apertares a vida numa golfada
onde é a terra
que o tempo bateu e as pedras esterilizaram?
Onde és, o que foste?
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(foto de autor desconhecido)
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