linh


Ficou o silêncio por decidires no que me foi difícil acreditar: mais nada que dissesse a tua voz, língua e lábios. Sequer uma palavra escrita. Apesar dos poemas que escrevo em contradição, sentindo a tua alma tão longe. Escrevo o que não quero pensar, são palavras que não me pertencem. Que, se a nossa distância possa não aumentar, muito menos a diminuirá.

Martelo os pregos invisíveis da minha paixão, e aureolo-me de santa-mártir. Porque dizem que amar é também o sacrifício de deixar ir. Nha Trang é o centro do meu pesadelo sabendo que qualquer direcção será um círculo infinito. Estradas, ruas e caminhos feitos para o meu calvário.

Foste como qualquer ave migratória que foge desta humidade. E o avião onde embarcaste não sabe do quanto dependo do teu regresso após as monções. Foste para onde só suspiram as gaivotas à beira de um mar revolto. A ver o mar atlântico, uma promessa tua. Song Cau a desaguar no mar da China, o que pude mostrar-te.

E tu ausente, sempre a pensar no regresso à tua terra. Que me levarias, outra promessa. Entusiasmada, levava-te à boca o marisco entre o hashis que não sabias distinguir

dos outros pauzinhos – como os descreveste –

chineses ou japoneses.

- You know what a fork is, Linh?

perguntavas, ao que eu respondia, brincando, que só nos filmes americanos

- America is not the centre of the world, Linh!

rematavas, orgulhoso de seres europeu; e percorrias a tua geografia como quem diz da própria alma.

Por que são difíceis as memórias que não tenho? Por que me magoa nunca ter visto o atlântico, nem a latitude dos pescadores da sardinha? Se só conheço essa América que disseste não te identificar, que pecado cometi?

Ficou o silêncio por não saberes como lidar comigo. Que não sabias convencer-me quando eu já convencida de quaisquer argumentos teus; que te era difícil entenderes tiếng Việt, quando eu entendia o teu idioma só observando os teus olhos enquanto falavas; que te incomodavam costumes, clima, cheiros, embora deslumbrado com estas paisagens, quando eu

com os teus beijos quentes

pude imaginar, senão perceber, o longe de onde vieste e regressaste, sem um aceno.

Aumenta o silêncio se aqui faz alvorada e aí já desceu a noite. Onde estás? Por que me deixaste assim, com impropérios estrangeiros?

Lerás o que te escrevo? Descer-me-ás, algum dia, desta cruz?


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foto de Nguyen Hoang Viet

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