a maior das distâncias


A maré. Força de água elementar, tão naturalíssima quanto o que faz com que nos cresçam as unhas dos dedos. A noite na praia desfeita, abandonada à espuma salina do mar. Se em noites limpas, a lua. Luzeiro que te acompanhou sempre, quer dormisses quer activo estivesses entre os rumores da cidade. E, finalmente, tu ali, como cruzeiro atracado no porto à espera de que a iluminação fosse restabelecida.

O cigarro. Uma condição estúpida, mas sabendo escutar a solidão. Nos espaços entre as rochas, velhas conchas fossilizando: os teus dedos. Lá mais longe, um farol treinando para resistir ao nevoeiro. E a cidade, para trás, pano de fundo de um esquecimento não bem previsto.

Não sabias explicar a vaga, o seu vai e vem ritmado, ora murmurante, ora estrondoso. Não sabias explicar o que extravasou de ti após consumido o cigarro pelo vento manso e frio. Terias referido a saudade, mas foi mais estranho. Contrariado, decidiste que todo o teu corpo se entranharia na água bulida.

Quero que saibas que, quando sentiste uma dor mansa, o peito abatido por um cansaço indescritível e uma resignação ao sono, já eu antes chorava em todas as vésperas do teu adeus. E agora, chorar sobre o teu cadáver e o poder velar nunca será possível. Foste, por teu desígnio, colhido pela maior das distâncias. E os animais no fundo do oceano terão realizado o ritual fúnebre de que eu nunca serei capaz.

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