terceto
Tu na janela e eu aqui, quedado como um arbusto incerto, quebrado pela tua sombra. Esperava que a tua resposta pudesse ser mais célere. E vi que era falsa a promessa, afinal, de que teria o teu convite para entrar. Só tu sabes melhor que os outros que um poema não se inicia acabando no mesmo verso vago, vã tentativa de oração repetida em murmúrio.
Porém: das palavras minhas, afogadas por casmurrice nesta chuva que teima em não arredar, só tenho três ligeiros parágrafos, e nada neles há de poesia – não como a que concebes. Ergo do chão as sombras que me seguem, agora, por companhia. Enquanto tu, como pintura, continuas à janela.
Não sei se disse tudo aquilo que havia para dizer. Só os dedos, orquestrados pela mão, decidem. Decidiram os meus que basta por hoje. Basta até mesmo para os próximos dias. Entretanto, os meus olhos, traidores, irão sempre buscar essoutras palavras por teus dedos orquestradas. Sei que nelas não serei em vão. Esperando ouvir o meu nome entoado por ti, a capella.
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foto de Ksenia Sergeeva
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