sintético

foto de Denis Karelov


Há uma distraída sobra de realidade enquanto se acende cachimbo aromático para assinalar o primeiro dos dias de dezembro.

Uma voz em eqsuis (x) grafado e em timbre sintético, o teu teclado a recorrer ao etéreo, entremeando o som das sombras. E já não te lembras, urinando, da perdida evocação das palavras que quase te davam, como oferenda, o poema novo. O poema da minha génese.

Nenhuma memória senão a das vozes. Com a tarde. A tarde que já não desce. Simplesmente, nesta latitude, apenas se apresenta perante ti muito moribunda. E apenas enquanto há alguma luz. Num repente morre, num repente o convite da cama, ajudado pelas cores da tv.

Eu nem sequer fujo. Sintetiza-se a minha voz com a eletricidade estática do copo, cujo conteúdo não se extasia: estando eu bebendo todas estas palavras, em camadas laminares

(quase compostas de vidro. Que, de um lado e do outro, faz constatar as distâncias)

se vão enchendo de embriaguez.

Eu suspendo o que sou para ser qualquer outro. E nenhum desses eu que quem imaginas quem sou, eu enquanto sou eu, enquanto eu podia ser. Ainda que por acordes sinteticamente recriados, erras sistematicamente na fórmula.

Sintético estou, sintético sou. Se penso, sinteticamente imagino? Em todo o caso: apenas sinteticamente me vês.

Não sou real: suposta e sinteticamente. E tu, por engano, desejas-me. O que farás quando do que não sou me encontras inteiro, inteiramente fora da realidade? E, nessa condição, como continuarás desejando-me?



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