saraivada



Saraiva ainda não. Penso que consigo explicar: fez-se uma luz de sol estranha na frente desta janela; sentiu-se frio, mais do que era suposto; caíram umas gotas, dessas em que facilmente qualquer gato, habituado às lides fora de casa ou não, consegue com a sua astúcia desviar-se.

Expliquei mal. Acontece que sou péssimo a dizer sobre as condições do clima, quando o clima

(bom ou mau)

não me serve. Podia falar sobre algo como… Por exemplo: o limiar da tosse. Sinto interiormente algo a ronronar no lugar onde me asseguram estarem os brônquios. Porém, não tusso. Não ainda. Sou bom na agricultura. Vê bem que até o arbusto do tabaco consigo plantar no cinzeiro, já condicionado pela argúcia de tê-lo bem negro para a biológica

(dizem)

compostagem das cinzas anteriores.

Saraiva não. Ainda não. Em Amarante, no santo Gonçalo que em terras de Gaia

(expliquem-me isto)

há gritaria de que ele é nosso

(espera por Janeiro para veres)

dão sobre-importância ao doce Teixeira. Que é do Pascoaes, poeta que quase nunca li

(que falta cometi?).

Gosto do teixeira doce, mesmo que despoetizado. Não tenho rainhas, todas podem sê-lo, mas nunca ainda nenhuma dessa forma se me apresentou. Também: para quê, que rei poderei ser? Porém, aprecio os caldos. Os efervescentes caldos

(que exagero! diabos fora)

que rematam qualquer artimanha masculina das dores da gripe. Não… apenas um apetite de tosse, pelo tabaco que teimo em plantar no cinzeiro.

Agora… caldas? Caldas sim. Se, escaldado, há alívio da tripa aos miolos e, nos momentos de romaria, a possibilidade de brincar com os franciscanos. Esses que, ora oram, ora arrebitam, conforme cordelinho inapto ou apto.

Apto não estou para tossir. Não é preciso. Também saraiva não vi ou senti, não: só uns pingos. Até me parece que é uma qualquer chuva doce

(dizem, nunca explicando)

entre gritos que o são Gonçalo é nosso com o doce teixeira

(espera por Janeiro e verás).

Eu consigo levar a vida inteira. Nariz como esse, porém, é difícil encontrar. Gaiato, que diz tudo o que quer. E, quando não quer dizer, insinua, entrelinhas, sem saber como e onde, a minha vontade de tudo mudar.

Barro contra a parede é para as andorinhas que fazem ninhos esperando que não desapareçam na primavera seguinte. Já eu não sou como elas. Isto é: volto em cada primavera, mas, para me manter, outra argamassa haja para que perpetue um ninho nos beirais

(meu? teu? nosso?)

resistente a qualquer circunstância.




Comentários

delírios mais velados