gato




Vem aqui ver:
a tarde completa e desmaiada.
Um vapor a pairar sob o crepúsculo.
Será ameaça de neblina
ou nevoeiro para tornar
a média escuridão da noite
num mistério de sombras diluídas?
Gostaria de ser gato contigo.
E sermos pardos, perdidos
nas esquinas e nos esconsos.
Atentos aos miados conjugais,
ou da alcateia. As ameaças,
os territórios, as fendas entre
portas e pouca confiança no lixo.
Interpretando o raro faro,
estender as antenas dos bigodes
para evitar perigos.
Depois, madrugada alta,
inspirar a humidade que fará,
na manhã próxima, o orvalho.
Vem aqui ver: estou nu.
Queima-me o frio e deliro
com latitudes tropicais
como se fosse razão
para esfriar o suor do corpo.
Vem aqui ver, e explica-me:
por que sofro? Eu não sou gato.


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