colheita em santa marta



Lacre a fechar o subscrito e lá dentro a carta,
inclinada a promessas desde que esta terra
se fez terra de gente. Um beijo imitado
sobre a alvura do papel, artificial
timbre dos lábios após gula de amoras.
O nome                                             Marta
martirizando seu destinatário,
ardido em flor e impaciência,
se é arte de santa que o ferve
de desejo, e a epístola consagrando-o:
mosto nos pés porque foram as vindimas
após frenesi com a parra, imitando ditames bíblicos:
“Fecunda em mim o vinho novo”, apenas pedia.
Um doce aroma: o das certezas inabaláveis
por natura contradição e desdita.
Vês como falece a tarde sem gota de lágrimas?
Tem esplendor com a sua queda.
Por que não te despes, Maria, e eu também,
sem farrapo sobre o corpo,
a velar, na sede dos mosquitos,
o purpúreo crepúsculo atrás dos montes,
sem haver mar para frescura dos corpos nus?
O vinho já arde nas veias e também
há sangue para honrado sacrifício.
Tudo soa em poucas horas:
no repique dos sinos, na ladainha da apanha,
na resposta que tarda.
Tudo sem senão: nem um antes e nenhum depois.
Menos será o que ainda mais arda.
Sente o sabor ao mosto,
veríssimo trovador,
não te percas com a derrota 
dos lírios do campo.



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