vem acreditar no que escrevo

 

foto de Anton Montbrillant



Vem acreditar no que escrevo
sem te perderes entre as sombras
que ocupam as fendas do mármore quebrado
e nos lábios apreciar
todo o vinho feito pelas minhas mãos
no lagar multiplicado pela vinha
plantada sobre o calcário húmido dos teus pés

toco-te com os dedos feridos de esperança
e a minha boca abre-se num suspiro
despindo-te do pedestal:
tens asas delicadas como as das borboletas
que se desfazem no escuro
depois do primeiro ósculo com a luz

acredita no silêncio das rugas e traz o poema
banhado em chuva
se vier o sol viverás com a última gota de água
que sorverei
na liquidez da tua idade
desviando qualquer propósito de poluição
junto às janelas.

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