soneto informe

foto de Pavel Troitskiy



O volume dos teus cabelos tem a força do trigo
quando as bocas clamam de fome os teus braços
nas raízes profundas da terra. Comungam o grito
essas vozes, sem eco, distante covardia dos fracos:

nenhum fraco é homem que te contente e segure.
Duvido se a minha língua pode atear em ti o lume;
dedos meus de brasas não queimam, só aquecem
como o pino do sol, entre planícies e outeiro cume,

onde pardais com sede, e melros que amolecem
co’o calor dos dias. E sede é o que a saliva sacia.
Sou ave migratória, gotas de rio em vez de melodia

o que levo no bico. Quero deixar tudo muito limpo
para a aurora que se ergue da tua cama ao novo dia
e assim demores nos beijos sabendo como te sinto.

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