ora, por contradição:

foto de Alexander Sviridov


– Perdão?

(soluço)

Se antes por contrição? Sim, seja considerado. Mas então é: por contradição, por contrição. Não antes, mas também.

Não sei se é semântica, se isolada regra gramatical, ou, simplesmente, via de interpretação. Ninguém o saberá distinguir. Acontece que me espanta o silêncio de ti. Sempre me espantou, pelo que não é novidade para mim, para ti, e para quem leia o cordel do novelo em que fomos dois, depois um, depois dois de costas viradas, mais tarde os mesmos dois olhando para trás sobre o ombro, e então novamente dois equivalendo o uno. E acrescentem-se os eteceteras necessários.

Para, no final repetido, sempre com o mesmo repente, acabando por se dividir outra e tantas outras vezes no dois. E, neste espanto meu, a forma como as léguas se duplicam por cada distanciamento, por cada forma de silêncio que preferes, sabendo de antemão que o silêncio vindo de mim significa

(– Não dar o braço a torcer?
– Isso é tão redutor… não, não se trata aqui de braços torcidos)

que eu deixei há muito de saber se isto é verdade, ou que os terrores nocturnos terão reflexo nos outros diurnos, com os olhos bem abertos, consciência atenta, dando desalento, fazendo aceitar resignação, ou…

(– Sabes lá!)

… de facto, nem sei bem.

Adiante: dizer que me espanto, por surpresa, de algo

(– Não devias escrever por algo…?)

de algo que, como já referi atrás, não sendo novidade, ficamos naquilo do chover-no-molhado. Nada acrescenta, significado nenhum tem.

Porém, considerando que o espanto (ou o espantado) seja afinal quando eu não arrimado e fugindo, então é caso para se pensar. Analisar. O que tenha de ser. Ou não tenha. Certezas nisto

(em que um mais um igual a dois, depois dois igual a um, depois um dividido por dois, a dar meio e outro meio que resgatam ambos a metade esquecida, e são dois outra vez para vez nenhuma o dois diluído num só; – oh, que ladainha aqui vai, vê lá esta confusão!)

certezas nisto nenhumas; como seria possível?

Então, o teu silêncio aumenta a minha ausência, sem discernir que haja ponta de indiferença (creio que não). E de ti para mim as léguas dobram, se é que não triplicam, ou outras contas de multiplicar… E um espantado, no sentido em que foge, como animal que se sente escorraçado, também duvida da exclusão: no caso, por não acreditar ainda que seja essa a intenção que tens em ti.

Ora, desconsidere-se enigma na questão, que seria mal-intencionado. Simplesmente considero que tem mais que ver com a ordem natural das coisas

(suspiro),

– Perdão?


Comentários

Maria Frazão disse…
sei desse sentir-se um animal escorraçado
...e também do silêncio que me mata

amar sem receber

sei
Maria Frazão disse…
sei desse sentir-se escorraçado
sei desses silêncio que dói
sei dessa ausência que atordoa

...sei do amor sem retorno

por isso li e chorei
Carlanela@sapo.pt disse…
Li e revi-me,reli e revi-me.Quantas vezes me apeteceu dar o braço a torcer? Nem sei. Sei do novelo dentro do peito,sei da dor,sei muito e no fim não sei nada.

delírios mais velados