James Douglas Morrison
James Douglas Morrison (08.12.1943-03.07.1971) |
É provável que nunca venham a tirar-te o diadema do rei lagarto, tal como ao rabi de nazaré nunca lhe tiraram a cruz – cálices de causa e martírios próprios que a carne humana, afinal, quis sempre afastados, qualquer que fosse a era, e a causa em si.
Quiseste a obstinada ventura de inflamar os espíritos, a intenção satírica em gestos teatrais, a arte de mostrar o mundo sem filtros, sem eufemismos. Palavras as tuas que vergastaram então e continuam ainda vergastando de ironias o mundo em que vivemos
(muito embora hoje apenas dizem achar piada fingindo não levar a sério; era um bêbedo, um pedrado, um amotinado),
este mundo gangrenado de hipocrisia, superando a custo da lama, a mesma onde desejamos ver afocinhados os teus algozes.
E, apesar de tudo isso, a tua ambição esteve sempre e apenas focada no papel do wordman, ainda que
(como qualquer poeta),
gritando e denunciando, impedindo que feridas deixassem de sangrar, abrindo as
p o r t a s
Deixaste-nos na voz que se eternizou pelos poemas cantados e ditos, o mobile de prosseguir despertando as mentes torcidas, rendidas, resignadas – um amontoado de folhas de outono que não serve sequer como adubo
(mais essoutros ainda que foram ganhando à sombra do teu discurso subentendido lotarias de reis e príncipes e demais escumalha).
Agora
(pouco ou nada diferente do desde sempre)
que a hora é da mesma revolta; agora que continuam sangrando as mesmas feridas para a morte que a todos debitará; agora que, mordidos pela tua serpente secular e mais atentos ao que nos impingem como jogos do azar e da fortuna, aguardamos demorados no rythman & blues para, ainda em teu nome, aspirarmos a um reino de doce e melodias, cuspindo sobre a hipocrisia hedionda.
Irados iremos sempre, ó louco poeta de incompreendida filosofia, sobre o lombo da tua poesia e com a rebeldia da tua voz. Iremos por onde o punho e o gume das tuas palavras voltarão a traçar o mundo, sugeridos pelo sorriso com que para o outro lado rompeste e que desde aí, James, tomámos como nosso.
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