vice-versa da rejeição

foto de Pavel Ermakov


Circunstâncias há em que morrer não significa haver fim. Somente um suspiro a dar conta de uma metamorfose e, inesperadamente, novamente o amor, como se fosse praga. Paixão é sofrimento consignado com o entendimento, a aceitação. Depois, como prado bem regado, floresce. E mais belo jardim não há que um prado ao acaso florido, selvagem, e entre silvas auscultado.

Se morrer é esperança que enceno, por lirismo, em mim, a morte é um simples aceno.

Observa as hidrângeas e entende que, entre haver água e a falta dela, a flor não se desmaia dos tons; antes cresce, bravia, sem medo aos acidentes do terreno onde nasceu. É quase um cacto sem espinhos e perfumado. Em nenhum deserto o terás, porém.

Dizes que não sei versejar, mas o defeito não é meu, nem sequer das palavras que escolho. De resto, que significa versejar? Fosse o mesmo que verdejar entenderia que um inverno acolhido no que escrevo de ti. Mas, não é. E sabes que não, sempre o afirmaste.

Queres-me tua, olha a insolência! Pensas em mim como quem mergulha em mar de coral achando as pérolas nas ostras mais distraídas. E que vem ser uma pérola senão resultado de uma defesa da ostra, ou enfim, parábola de excremento, do que acresce sem fazer crescer?

E quando pensas em mim como carne curva, a metaforizar as curvas de um caminho sinuoso, não terás medo da inclinação se acentuar? Ou que diabo qualquer te acometa, de supetão, com riso escarninho?

Tua? Ó desmesurado convicto e convencido macho! Esconde ou elimina o rastro sujo da tua pelagem como daninha erva insurgida no decote da tua camisa floreada. Não sejas ridículo quando da passagem de uma rainha. Há bobos da corte que sobrevivem, mas esses não porque são engraçados, mas porque caíram em graça, que têm prole a alimentar.

Tu que tens? Um pénis? Podes sempre ir pescar. Fome terás nunca. Sei: deixo-te sem argumentos. Nunca compreendeste quando te dizia:

– Há o dia do vencedor e o pranto dos vencidos, e vice-versa.

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