estes parêntesis

foto de Ruslan Ahmetshin

O espelho reflecte a mesma
luz dos intervalos no estore
da janela, as frinchas por onde
há ar e também qualquer coisa
parecida com aroma; quero saber
e não sei se paladar, se um outro
delírio de isto ser e faço disso a
razão única de estar aqui
            escrevendo

Por si, essa luz é insuficiente
(ou ineficiente
            ou indiferente)
para que, com solenes palavras,
se declare o fim de alguma coisa;
seja o que for,
esteja onde estiver,
haja o que houver

Não se vê daqui e daqui também 
não se ouve pessoa alguma; 
só o ruído distante que
me faz confusão com o tempo
e um vento inquietando ramos
altos das altas árvores, esganiçadas
num céu informe
            (ora azul
ora penumbra de qualquer nuvem
            que atravessa)

Então, estar aqui valor nenhum
pode acrescentar – se não valor,
a razão que impere; vou cedo
desenterrar as plumas fétidas
do pássaro morto há dias:
porque os gatos domésticos
caçam já como se por desporto
            Estar aqui não faz
já qualquer sentido.

***

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