vulva de fogo

foto de Andrey Pareto


Se anseias o sol, abre a janela do teu quarto, corre as cortinas para os cantos onde as sombras sobram da madrugada quando cedia o teu corpo a um fogo entre os dedos. Fogo com que o desejo intentou erguer império tendo tuas falanges como escravos.

Abre a janela, arruma as cortinas para onde já não te incomodarão fantasmas ou outra coisa que te faça em vão transpirar. Poderás ver então um outro fogo mais vivo, de tão benigno que, na vez de queimar, renova, esclarece, faz crescer.

A luz incidindo entre os cristais para todas as cores no seu fulgor; nos nós das madeiras fragmentando a ilíquida monotonia dos móveis, para se tornarem vivos, sossegados entre o pó iluminado como os luzeiros da abóbada celeste da noite.

E tu, despida assim, arrepiada sem frio por tamanha insinuação libidinosa, numa energia que teimavas em desperdiçar e que, sabes bem agora, te renova. E virá tarde depois, e outra manhã novamente. Ciclo que desejas, com a raiz do meu corpo para te devolver o teu.

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