feminina

foto de Elena Kasparovich


Para quando o odor acre da tua humidade, clareira entre floresta de outros odores, desses dos banhos nupciais quando as amantes do nardo acrescentam a sua perfumada feminilidade… Fazes da tua pele uma seda para me envolveres em névoa de sensações; os rubores da tua face, os teus lábios vermelhos de intuitiva sedução, a roupa interior antecipando na renda a mais soberana entre os desejos meus – a tua nudez…

Para quando?

Permites que percorra a minha língua em ti, a imaginar uma rota centenária, a senda pelas especiarias orientais, babando pavlovamente, pela circunstância dos teus líquidos? E, destes, aflição delicada de fome na minha boca, possas vir, por tua vez, a ser como raiz que sorve os humores da terra, de forma a sentir o frémito concentrado do meu corpo erguido e envolvido em tua boca?

Ai!, que arrepio! Ai!, esta diagonal do estremecimento das minhas pernas, enquanto me reténs pelas nádegas por insegura como se pudesse eu fugir dos incentivos da tua língua gulosa…

Quando me vires sonolento entenderás, no meu respirar profundo, delicadamente satisfeito e rendido, o amor que te tenho. E o quanto o teu corpo, por ser de humor e minério terrenos, faz tanto alimento à minha alma, outrora desesperada e desencontrada.

Sustenta, por favor, por súplica minha, esta primavera em mim. E que a faças prolongar, para lá das estações, dos equinócios e dos solstícios, constante, pela alegria de te ter. Sem negares que és tu quem está ao alcance de tamanha engenharia a empreender sobre o meu corpo e, razão primeira, sobre a minha alma.

Prometes, sem te incomodares com as descosidas promessas outras que uma e outra vez te faço? A feminina em ti tem dito que sim, num aceno positivo da cabeça, e com a convicção de tal promessa na luz clara dos teus olhos, como farol alumiando o caminho para que eu coloque passos correctos no destino a ti.

És tu assim, feminina?


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