falha técnica
Curioso: somos uns bichos solitários de condição e vontades variadas, dispersas. Não sabemos ao que viemos, ao que estamos, e muito menos ao que vamos mas, nem por isso insistimos numa razoável integridade. Entre provérbios imensos, este sumariza: «o que é hoje já não é amanhã». Somos elos de uma cadeia infinita
(ou figuradamente infinita, pois qualquer particular é parte ciclicamente efémera nesse concebido infinito do todo de que se constitui o universo expandindo, e)
não. Afirmações desta qualidade não se servem entre parêntesis. Reformulando:
é curioso como somos bichos solitários de condição e vontades dispersas
(que queria eu afinal dizer com isto?)
Risco. Reformulando:
somos elos de uma cadeia a imitar infinitude, pois é sabido que cada particular é apenas o que cabe, efémero, no ciclo do universo que se expande até um
(infinito?)
limite, do qual começará a retrair-se. Dessa retracção do universo dito infinito, dá-se o princípio da finitude, que será o nada, a não existência. Não vamos conseguir mais que isto, círculos e mais círculos, chegando sempre ao mesmo ponto de onde partimos a pensar, convencidos, que pudéssemos divergir em alguma altura da nossa desinteressante existência.
Sim, bichos solitários de condição e vontades variadas é o que somos mas, ainda que resignados e contrafeitos, na beira do sono e do vómito, sempre à espera do que o acaso
(por teimosia preferimos dizer destino, em sentido premonitório, do que há-de vir a ser porque assim ficou escrito)
tenha a propor-nos.
Ora, considerando tais afirmações como um declive do pensamento e, descaradamente, decidir, em maior acentuado declive, que havia de ser grafado, a conclusão, para estes dias de menos luz e mais penumbra
(portanto, mais sono e menos juízo),
é: o silêncio, ainda que não o consideremos de ouro, deve ser auto-forçado exílio para quem
(como este que risca papel inocente, ai pobre condição!...)
nada tem a acrescentar que não seja lixo de verborreia. Sendo assim então, e para sair de fininho, assobiando descaradamente para o ar, sobra um
- Até qualquer amanhã!
o qual será encarado como assaz eloquência. Porém, lamento a desilusão, trata-se apenas de falta de engenho, um medíocre intento de escrever como quem enche chouriços. Ou, se quiserdes, uma falha técnica.
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