os chavasqueiros


– Não sejas chavasqueiro! 

reprimia assim a mãe por qualquer acto patético, ridículo, dos seus filhos. Isto, obviamente, antes desse olhar angular que ela decidiu agora adoptar como máscara de peixe morto na lota. Aquele brilho dos olhos inertes e fixos em parte nenhuma que os peixes exibem após labuta sacudida contra a rede que os pescou – presumo que me entendem. Antes ainda dessa fase em que exibem os olhos baços sobre o gelo das peixarias nos supermercados. Pobres cadáveres de peixes abatidos apenas por uma rede, à margem de arpão, arma de fogo ou maquinal guilhotina… Ah, sim: abatem-se os peixes e, 

espantai-vos!, 

nenhuma manif ou sequer um cartaz corrido a marcador negro e grosso que proteste

– Não matem os peixinhos!

Incompreensível falta…

Da mesma forma que – e eu não entendo nada do calcário ou do xisto ou seja lá qual for a porosidade da terra de que são feitos os socalcos de qualquer vinha – andam por aí estas gentes que, de muita garganta e pouca acção, se lhes havia de aplicar em rigor o provérbio que assinala tanta parra para tão pouca uva,

(ou será aquele outro da inconcebível montanha parideira de ratos?),

sabendo nós, os pagãos, da falta que faz o vinho novo para as celebrações que se adivinham, augurando promissora verdura aos rebentos ainda sob a neve. Afinal, disseram, dizem e continuarão dizendo o quê? Mentiras com meias-verdades ou falsas-verdades a enganar-nos de mentira

(ó diabo, a quanto obrigas estas almas confundidas!)?

Vá, concedido o desconto, achemos-lhes meias-verdades e meias-mentiras, ou apenas fantasias de uma chalupíssima trindade constituída de relativa boa-fé, muita ignorância, e de um laisser faire laisser passer à moda dos dias de agora. Chavasquices!

Eh pá! Digam antes a clássica poesia, leiam coisas que são deste mundo, humano e terreno, numa linguagem simples mas tão lírica que não vos feche a boca de espanto. Para e por quê insistir com os braços aflitos para vir à tona no meio do lodo desse chavasco linguajar

(com o pedro mexia, a mero exemplo ilustrativo, alvitrado de workshops de escrita)?...

… deixai que a profundeza dos pântanos vos engula, e sereis perenes, martirizados pela vossa própria e tão nobre esperança!

Isto não vai parar, é o que eu já adivinho… não vai parar, pois não? Enfim, do meu arrelio, desejo que se enfiem todos em chamadas para Tóquio nesta moderna tendência das vídeo-conferências. E haja chavascal pendular, grosso, a cultivar salivas e tumescências, na vez dessa amena chavasquice.

Disse o quê, mãe? Pescadinha de rabo na boca? Sirva-se então, pois, com aquele arroz malandro de tomate, já fugindo do prato…

Execrável poesia que produzis, e com o descaramento ainda que tendes de a dizer, como se o mundo pudesse ser, ou sequer caber em parte, no deserto florido 

(impossível: claro-é-galinha-o-põe)

das vossas inócuas palavras. Palavras ainda fossem, vá… mas são só paleio fácil para que mentes frágeis possam apreender e idolatrar, a bom grado dos vossos ubíquos umbigos.

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