comoção lírica para esmeralda
foto de Erik Gasca |
– Faz tanto calor, meu querido…
Suspiras assim, no princípio da nossa saciada saudade, como se as seis horas que leva a tarde fossem ainda o pino solar do meio-dia, fervendo o chão da relva, amolecendo as sombras, os telhados, os alpendres. As quatro paredes de um quarto com almofadas e lençóis de seda branca frente à janela com esta brisa morna.
E fazemos amor. Como se já não chegasse o calor suficiente desta tarde de verão, como se as árvores frondosas do centro da cidade, que a vista da janela concede, não fossem, por si mesmas, o cúmulo de transpirações de desejo e sede montada a verde. E, os corpos, os nossos corpos,
– Conjuntivo o teu corpo, Esmeralda…
pudessem ser metáfora de névoa de abril ou orvalho do gestante verão em junho, com o tojo já desmaiado da flor e, ainda assim, insinuando o seu perfume pelas montanhas.
Porém, é julho pleno, e fazes este calor no meu corpo, dentro em mim avultado na sensação de um vulcão que explode, vezes sem contar as vezes não contadas, mas todas as vezes que o meu desejo cresceu por tu também desejares de igual forma.
As pérolas envoltas no teu pescoço como gotas de profunda água de nascente a norte. E toda a frondosa verdura das árvores acariciadas no regular movimento dos teus olhos, um alto minho celebrando a sua geografia sobre o meu corpo, a exaltar o meu vai-e-vem dentro em ti, com tanta comoção seminal, carnuda, mais a espessura emotiva do amor que nos une, tão predicados que estamos.
Derretemos a tarde como se, nós mesmos, pudéssemos ser estrelas próximas de planetas enfatizados de dar luz e calor à vida, ao temperamento do que queira nascer para maior esplendor do universo infindo.
Queda o lençol húmido, manchado de complacência, a testemunhar a vaidade do nosso incêndio até à queda crepuscular. O sol sabe o ninho onde se pôr, mas os nossos corpos proliferam nos leitos de todos os amantes, tal epígrafe dos poemas rendidos à entrega inconsequente das bocas que se desejam nestas noites coroladas.
Nisto, o fundo cristal dos teus olhos, acendendo lume na vaga noite que quer inaugurar-se por vaidade temperada destas estivais horas, compete com o lema do tanto e como
(e quando)
tudo arde em mim.
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