destino



É muito simplista dizer que amar seja uma mera equação. Quero dizer, contrariando quaisquer equações simplistas, não podemos argumentar que a matéria do amor seja uma questão de decidir entre primeira, segunda ou terceira escolhas. Tanto quanto a minha consciência conseguiu divagar ao longo deste tempo, trata-se de ter consciência de saber onde, e em que circunstância, é mais legítima a minha presença. Acima de tudo, que essa presença seja onde é mais necessária, quando estar ou não estar não permite ser permeável a desejos e devaneios, e que muito menos possa escapar à irreversibilidade do que se ama incondicionalmente. Estar onde o amor maior nos leva poderia ser a equação equilibrada. 

Ainda assim, qualquer equação ou a maior empírica verdade, traz consigo na génese a contradição da excepção. E, neste premente caso do destino, será excepcional o facto de eu e tu termos a consciência de um mundo novo, de toda uma profícua primavera quando fodemos com os corpos ébrios de desejo, nessa causalidade de tanto nos amarmos como se todo o tempo pudesse ser reversível e toda a história das casualidades pudesse ser não a excepção mas, a intriga de todas as regras. Isto é: sem a dúvida do amor e que, quaisquer que fossem as mudanças, para o bem e para o mal, fomos feitos um para o outro. 

Bicho delicado este a quem te dedicaste. Bicho em que apostas as tuas maiores forças para contrariar destinos, casualidades, tempo e espaço ou até negar as tuas próprias convicções. Porém, não desafias quaisquer leis físicas, nem nada assim de tão extraordinário. Contrarias simplesmente esse amor múltiplo, que vem de dentro de mim, consequente de maiores manifestações que não as simplistas e egoístas. Amor apenas, prolífero como o pólen em maio fecundo. 

Entre os milhões de seres humanos que ocupam o planeta, dizer que cada qual tem a sua alma gémea, intriga o resultado de saber: quais são as probabilidades de se acertar? Por essa mesma razão, eu desloquei-me para o centro, mas não por egoísmo: por magnetismo e gravidade. Na órbita, o amor. Dentro do amor: tu, elas, eles, todos. 

Não é difícil. Bastará apenas conseguir interiorizar a humildade de aceitar a matemática sobre ordem natural das coisas. Coisa pouca, será a tua conclusão quando enfim compreenderes. Que eu, tu e os outros somos a coisa natural, a casualidade de todo o destino. 

Aceita-me. Aceita-nos. Só tu tens a pá para abrir trincheiras e aguentar o fogo do tempo. E do destino.

Comentários

Margarida disse…
Tanta curva duvidosa, tanto pensar, tanto traduzir o intraduzível. Sou simples, quase básica no que aos sentimentos diz respeito. Cruzei-me com tantas pessoas vida fora e cada uma delas me tocou de forma diferente mas, uma delas, não me tocou simplesmente entrou e ficou. Aceito-a e aceito-me.
Almas gémeas? quem pode definir esse encontro num universo repleto de segundas metades? Sou tão simples...não complico o que sinto nem o que no meu coração considera óbvio. Há muito que deixei de procurar fosse o que fosse, há muito mesmo aliás, foi a partir do momento que o meu coração sentiu que havia encontrado
o abraço que procurava. Aquele abraço que fechava em si todo o meu mundo.
Margarida disse…
Sou impulsiva, é um facto mas passado o primeiro impulso eu fico sempre a pensar. Gosto muito de pensar e sobretudo de observar e para isso, sento-me na minha mesa de eleição, ao canto, nunca ao centro. No centro não consigo visualizar todas as pessoas, passam rápido, e acredito que nunca tenho hipótese de as ficar a
conhecer verdadeiramente no entanto, mesmo tendo um amplo campo de visão, por vezes há detalhes importantes que me passam despercebidos e foi o que aconteceu há uns quantos anos atrás.
Depois de uma breve conversa virtual com alguém, esses mesmo alguém, acabou por escrever desta feita num espaço só seu o seguinte: "Disseram-me para escolher entra a vida ou a poesia, escolhi a poesia".
Na altura, pensei apenas que era um pobre de espírito que nunca se dera ao trabalho de me conhecer realmente senão, saberia que poderia ter as duas coisas...
Apenas agora, depois de ler com muita atenção as tuas palavras percebi finalmente que essa pessoa vivia ao centro, um rei sol que nunca, por opção, me conhecera verdadeiramente. Agradeço-te por isso, percebi e interiorizei e por isso voltei para te deixar a "pá". Algo me diz que um dia precisarás muito mais dela do que eu.
Olá. Presumo que esteja a dirigir-se ao narrador/personagem do texto e não ao autor... Os textos que escrevo são exercício de ficção, não defendem qualquer estado ou ponto de vista vinculado a mim, como autor. Obrigado pela visita.

delírios mais velados