recursos

foto de Nam On Eman, via Nötr '

Sou consciente dos delicados recursos necessários para poder reencontrar-te. Observo a lua como paisagem dominante dos que, com o corpo habitante na terra, têm o espírito vagante no etéreo, premissa também a tua para te afastares do mundano antes das tuas últimas palavras. Não tenho certeza das coordenadas para me alinhar na mesma órbita – de que serve, afinal, ter certeza? Faço o caminho de um dia de cada vez, inadaptado a responder sobre o que virá. E quando me questionam se estou preparado para a tal passagem, 

(expressão densa de simbolismo esotérico e de rituais), 

só consigo argumentar com um quase inexpressivo encolher de ombros. E nisto, nenhuma separação entre vida e morte, qualquer estação do ano, permuta de luz e trevas. Laboriosos signos para quem precisa de acreditar, crer para sobreviver. Este crer, a fé, como lhe chamam, é um embuste inventado para sossegar a alma queimada pela dor da irreversibilidade das partidas constantes dos que vão desaparecendo do nosso horizonte, do nosso toque. E crer sem duvidar, já alguém o disse, é uma fé morta

Sou consciente do efémero; que reencontrar-te, e ficar onde estás, e seguirmos juntos como nos contam em fábulas, é uma abstração. Porém, se não dou intervalo para que as certezas aconteçam, é esse mesmo cepticismo com que posso reconhecer o ponto de partida para conseguir iluminar dentro de mim a ténue luz que tanta gente terrena evoca e com a qual se acalma, reticente: 

- Haja esperança…

Comentários

Margarida disse…
Esperança? Eu diria antes: Haja coragem!

delírios mais velados