poema da redenção


«I'm lost in your crystal mask»
The Gift, Laura
 Digital Atmosphere, 1998


O sino badala para anunciar o mundo a este quarto escuro, onde poros rejeitam a parição da aurora e o meio-dia esclarecedor. Badala vezes sem conta ou conta que não quero eu fazer, a sentir que me chama, me apela, e eu sem nada dever à manhã ou à tarde porque deixei de me interessar, finjo-me de morto, a concluir as horas que faltam para o render do dia. Não estou, não procuro saber de coisa alguma e o quarto continuará poroso e negro. Escondo-me em máscaras e tão tolo, por sabê-las que nada escondem de mim, moldadas que são em frágil cristal. Hiberno cada ano, tolhido pelas geadas e ventos frios, entorpecido com a escuridão dos dias de chuva, introvertido na existência sem preocupações futuras, apenas remoendo os acasos que têm feito a minha vida até aqui. 

Então, o teu olhar a dar-me razões. Abri os meus olhos e vislumbrei um aceso findar do dia, feito Noé ao cabo de catastróficas tempestades. Entreabriste os lábios e sussurraste: Vê! Era o pôr do sol, ao fim dos anos, dos dias, das horas. Com o teu olhar. Dás-me o pôr do sol, eu procurarei dar-te o luar, nesta madrugada em que do teu beijo me houver renascido finalmente para reaprender contigo o significado da cumplicidade e da partilha. 

Aqui, neste efeito de luz do pôr do sol que me ofereces, ponto de partida para o último anoitecer, a derradeira madrugada até me ver acolhido no teu regaço, quimera tão minha, meu afecto de sempre, meu amor.

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