epifania do nada



Assim, de repente, aquele silêncio. Esse que te diz 

- Estás só, irremediavelmente só. 

que te faz pensar 

- Porquê? Onde foi que isto aconteceu? 

e vês os teus pés sem chão, certo de já não existir qualquer caminho a percorrer, por mais bifurcações que te apresentem. Ou, de outra forma, tomas-te como aquele tão famoso tolo, a meio de uma ponte 

- Para que margem? 

e a única solução mais viável é a que te aparece no fundo do abismo, no escuro negro de um rio em maré de inverno, o cego chão inclinado do precipício das noites sem lua. 

Argumentas: 

- O meu mundo interior foi sendo construído com a tua ausência, sabendo perfeitamente que existias, mas ainda sem te ter encontrado. Quando te encontrei e te percebi real sem qualquer razão onírica, pude, finalmente, entender e dar sentido a esse mundo que vinha construindo: o teu nome e dele o que te define. Sem ti, agora, só resta ao meu mundo erguido a irreversível ruína. 

Não temas, então, se a vida deixou de fazer sentido: arruína-te.

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